Introdução
A asma é uma condição complexa e multidimensional que afeta os pacientes sob várias formas.
Ter asma é inerentemente gerador de stress e problemas psicológicos são comuns e estão associados a resultados negativos. Embora a maioria dos pacientes possa alcançar altos níveis de controlo com farmacoterapia otimizada, na prática da “vida real”, o controlo inadequado é comum, com dependência excessiva de medicação broncodilatadora de resgate e sintomas contínuos e comprometimento da qualidade de vida. Cada vez mais os pacientes estão interessados em tratamentos não farmacológicos para melhorar o controlo da asma, principalmente exercícios de técnicas respiratórias, mas, até recentemente, a base de evidências era inadequada. O lugar dos exercícios respiratórios tem sido controverso, em parte porque alguns proponentes fizeram alegações exageradas e implausíveis de eficácia. Evidências recentes, nas revisões sistemáticas e nas guidelines, resultaram na recomendação de exercícios respiratórios como tratamento complementar na asma.
A Asma foi diagnosticada a mais de um milhão de pessoas em Portugal e cerca de 700 mil têm a doença ativa (dados de 2019).
Mais de 700 mil portugueses têm asma, sendo que 300 mil não têm a sua doença controlada e passam por crises de dificuldade respiratória.
Os dados são divulgados pela
Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica e pela
Associação Portuguesa dos Asmáticos
A asma é por si uma doença transversal aos vários grupos etários, desde crianças na primeira infância até aos idosos, atingindo uma frequência de quase 10% em todos grupos.
Em Portugal, cerca de 700 mil pessoas sofrem de asma. Contudo, esta doença está longe de ser igual para todos os casos. A asma grave afeta cerca de 5 a 10% dos asmáticos portugueses, estimando-se que poderá envolver entre 35 mil a 70 mil asmáticos. Esta é uma doença difícil de controlar e com custos sociais e encargos financeiros acentuados para os sistemas de saúde.
A necessidade de inovações nas estratégias de gestão da asma
Entre as realizações notáveis da medicina moderna estão as melhorias consideráveis na gestão da asma que ocorreram na última parte do século passado. Embora a prevalência da asma tenha aumentado [1], ocorreram melhorias na hospitalização, mortalidade, controlo de sintomas e qualidade de vida. Estes resultados foram alcançados através do uso generalizado de medicamentos seguros e eficazes e cuidados estruturados e proativos [2]. Os cuidados hospitalares especializados são agora reservados para aqueles com controlo inadequado ou doença grave e resistente à terapia, enquanto generalistas e clínicos de saúde primária prestam atendimento à maioria dos pacientes com doença leve ou moderada. É possível que tenha surgido um sentimento inadequado de complacência, com a sensação de que tínhamos “superado” a asma, e a asma caiu como prioridade na agenda da saúde.
O novo milénio mostrou que esse otimismo era injustificado; a asma ainda está entre as condições de saúde de longo prazo mais comuns, é incurável e os resultados pararam de melhorar [3]. O nível de carga de doença causada pela asma permanece enorme, resultando em níveis de comprometimento da saúde, semelhantes à doença hepática crónica e esquizofrenia [4]. Infelizmente, os pacientes continuam a morrer ou a sofrer ataques com risco de vida, que geralmente são evitáveis [5]. Além desses ataques raros, mas graves, há também uma enorme carga de problemas de saúde de longo prazo para a maioria das pessoas com asma. Episódios repetidos, muitas vezes imprevisíveis, de falta de ar e sintomas torácicos angustiantes são um facto para a maioria das pessoas com asma na “vida real”, mesmo para aqueles com doença aparentemente leve. Investigações demonstram que a maioria das pessoas com asma na Europa apresenta sintomas regulares [6], resultando numa capacidade prejudicada de levar uma vida plena e produtiva e com grandes custos diretos e indiretos [7].
Existe algum elemento no tratamento da asma que não esteja ser contemplado? Em particular, existem estratégias não farmacológicas que podem ser usadas para ajudar os pacientes a lidar melhor e a reduzir o impacto da asma nas suas vidas?
A disfunção psicológica é até seis vezes mais comum em pessoas com asma [8], com a qualidade de vida relacionada à asma a correlacionar-se melhor com fatores psicossociais do que a função pulmonar ou a etapa do tratamento [9]. Os mecanismos subjacentes não são completamente compreendidos, mas provavelmente estão relacionados a vários fatores biológicos e comportamentais sobrepostos. Estudos de neuroimagem funcional mostram que as estruturas cerebrais mediadoras da falta de ar estão relacionadas anatomica e funcionalmente com o processamento das emoções [22], e que o estado emocional pode influenciar as respostas imunológicas, por exemplo, aos aeroalérgenos [10]. A ansiedade está associada à piora do comportamento de autogestão [11].
A respiração excessiva (hiperventilação) e padrões respiratórios anormais (respiração disfuncional) são comumente associados à ansiedade, e os exercícios de
controlo da respiração têm sido usados desde há muito tempo como tratamento para ansiedade e pânico. A hiperventilação e outras anormalidades na respiração também têm sido associadas à asma, implicadas como desencadeantes da broncoconstrição e da produção de sintomas semelhantes à asma em pacientes de todos os níveis de gravidade de asma [12].
Uma certa quantidade de ansiedade é natural e inevitável com sintomas angustiantes, como dispneia, e pode promover respostas adequadas, como procurar ajuda ou usar a medicação necessária. Ansiedade excessiva ou respostas inadequadas, no entanto, podem resultar numa situação de “feedback negativo” de agravamento dos sintomas, levando a mais sofrimento emocional e cognitivo, muitas vezes envolvendo respiração excessiva ou respiração instável e "anormal" e com comportamento de autogestão deficiente. Como consequência,
vários tipos diferentes de técnicas de controlo da respiração têm sido defendidos para o tratamento da asma.