Abandonamos deliberadamente os conteúdos mentais
Assim, não damos crédito aos conteúdos mentais para observar o processo de experimentar, para ver o fluir do rio da nossa consciência. Os pensamentos vêm e vão. Sentimentos vêm e vão. Sons e sensações vêm e vão.
À medida que desenvolvemos a prática, o coração pode simplesmente descansar nessa consciência, descansar nesse reconhecimento, e podemos estar presentes, recebendo toda a experiência,
participando dela, conhecendo-a plenamente sem confusão, sem acrescentar nada.
para isso.
Não há necessidade de gostar ou não gostar, de aprovar ou desaprovar.
Basta o simples reconhecimento do som de um automóvel que passa. Esse padrão indo e vindo – surgindo, permanecendo, desvanecendo-se.
Para alguns a mente já pode estar bastante calma e concentrada. Para outros pode estar agitada e ocupada.
Temos que decidir o que vai ser útil, apropriado num determinado momento.
Se a mente está ainda agitada e inquieta, à deriva aqui e ali, continuamos a usar a respiração ou as sensações dos passos na meditação a caminhar, de forma direta e deliberada, para ajudar a estabelecer maior foco. Precisamos, então, de usar uma âncora para ajudar a manter a atenção aqui no presente. Mas se a atenção já está firme e clara, se houver uma falta de distração, não precisamos da âncora.
Pode ser que seja capaz de sustentar a qualidade da
consciência aberta, observando claramente o fluxo da experiência, mas então a mente acaba por ser apanhada por um determinado som ou uma memória e a atenção é levada por uma série de pensamentos e de emoções. Perdemo-nos. Uma vez que esta distração é notada, podemos reflitir:
‘Este é apenas mais um pensamento impermanente. Este memória dolorosa é anicca, dukkha, anatta.
Essa percepção em mudança é vazia, é insatisfatória, não tem dono. Não é quem e o que eu sou."
Isso pode ser tudo o que é necessário para que o apego se dissolva, voltando facilmente a uma consciência aberta (sem âncora). Ou pode ser que o sentimento, a sensação no corpo ou os julgamentos sejam tão fortes que não podemos simplesmente largar. É tão atraente e fascinante ou doloroso que uma reflexão sobre a incerteza e a transitoriedade não é suficiente para soltar o apego, para que a identificação se dissolva e se desvaneça. Nesse caso, a mente é transportada para longe da prática.
Se isso é o que é discernido, precisamos voltar para a respiração e restabelecer a qualidade do foco.
É importante não ignorar o fato de que a atenção foi desviada e é apanhado na proliferação conceptual.
Voltando para a postura.
- Restabeleçer o equilíbrio de energia e calma, restabelecer o relaxamento.
- Voltando para a respiração, focando-se no no presente.
- Estabelecer a clareza da atenção.
E quando esses pilares estiverem restabelecidos, fortes -
uma postura bem integrada, a atenção alicerçada no presente- quando isso é estável e claro, uma vez mais, novamente, permitimos que a respiração desapareça na mistura geral da experiência e vemos se podemos manter a qualidade da consciência aberta mais uma vez.
A aplicação dessas reflexões, deste estilo de meditação, é chamado de vipassana, meditação de insight ou mindfulness.
Quando observarmos o nosso mal-estar, comecemos por convidá‑lo à nossa consciência sem julgamentos. Reconhecemos simples e amavelmente que
ele existe. Este passo poderá dar‑nos de imediato muito alívio.
Depois, assim que o nosso medo se apazigua, podemos acolhê‑lo com delicadeza e explorar cuidadosamente a sua raiz, a sua fonte. Compreender
as origens das nossas preocupações e dos nossos medos ajudar‑nos‑á a deixá‑los partir.
Aquilo que nos deixa receosos tem origem em alguma coisa
que está a acontecer no momento presente ou é um medo antigo, da nossa infância, que escondemos em nós?
Ao praticarmos esse gesto de convidar a insatisfação a emergir na nossa consciência, percebemos que ainda estamos vivos, que ainda temos muito para estimar e do qual desfrutar. Se não estivermos assoberbados a engolir, a esconder e a tentar ignorar os nossos medos, teremos a hipótese de desfrutar da companhia das outras pessoas, do sol, do nevoeiro, do ar e da água. Se o leitor for capaz de observar profundamente a sua insatisfação e ter dela uma visão cristalina, poderá verdadeiramente ter uma vida que valha a pena ser vivida.
A ausência de insatisfação não é unicamente uma possibilidade, é o zénite da alegria, da liberdade.
Não espere pelo momento crítico para começar a praticar para transformar o medo e viver em atenção plena. Ninguém lhe poderá oferecer a ausência do da insatisfação. Mesmo o Buda, caso estivesse sentado a seu lado, não o conseguiria fazer.
Tem de o praticar e o alcançar por si só. Se tornar a prática do mindfulness um hábito seu, assim que as dificuldades surgirem já saberá o que deve fazer.