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Mindfulness-Based Cognitive Therapy e Saúde Mental

Os números oficiais impressionam. Vinte e três por centro da população portuguesa sofre de um problema de saúde mental. Atualmente, Portugal é o segundo país da Europa com maior prevalência de doenças mentais entre a população. Quatrocentos mil por ano são diagnosticados com depressão. Em 2016 prescreveram-se 30 milhões de embalagens de psicofármacos. E gastou-se, por dia, 600 mil euros neste tipo de medicação. Antidepressores são os mais comuns. A abordagem Mindfulness, em especial o protocolo MBCT, poderá contribuir para a melhoria deste quadro cinzento?

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Introdução

Atualmente, Portugal é o segundo país da Europa com maior prevalência de doenças mentais entre a população e um em cada quatro portugueses sofre de um problema de saúde mental. Segundo dados fornecidos pela Ordem dos Psicólogos, perto de metade dos cidadãos — 43% — já teve uma perturbação mental em algum momento da sua vida. A mais frequente é a depressão, com o número a ter aumentado 43% nos últimos sete anos. Se, em 2011, a percentagem de portugueses com depressões era de 6,85%, em 2017 tinha subido para 9,8%. No que diz respeito à ansiedade, a taxa quase duplicou, de 3,5% da população em 2011 para 6,5% em 2017.

A abordagem Mindfulness pode ajudar?

Nos últimos anos temos vindo a assistir a um aumento das “abordagens de terceira geração” dentro da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), defendendo que se deve ensinar os clientes em terapia a se relacionarem diferentemente com as suas dificuldades e vulnerabilidades através de uma combinação de princípios cognitivos / comportamentais com aceitação e atenção plena / mindfulness (Hofmann & Asmundson, 2007). Uma dessas intervenções é a Terapia Cognitiva Baseada no Mindfulness (MBCT - Mindfulness-Based Cognitive Therapy), desenvolvida por Segal, Williams e Teasdale (2002) para combater a depressão recorrente. O MBCT é uma fusão do programa Mindfulness-Based Stress Reduction (MBSR), desenvolvido inicialmente para condições de stress e saúde física (Kabat-Zinn, 1990) e CBT (Cognitive Behavior Therapy; Beck, 1976). O MBCT combina exercícios de mindfulness com os princípios da terapia cognitivo comportamental e atualmente é indicado no NHS (National Health System em Inglaterra) como um curso protocolado, em grupo, de oito semanas para pessoas que sofrem de depressão recorrente. A premissa teórica do MBCT é que episódios repetidos de depressão tornam as pessoas vulneráveis à recaída em momentos de humor deprimido (sentirem-se tristes, ansiosas, vazias, preocupadas, impotentes, inúteis, culpadas, irritadas, magoadas ou inquietas) devido a redes de associação entre humor deprimido e cognição depressiva (Segal, Williams, Teasdale & Gemar, 1996); estes levam a um "circuito fechado" de pensamento depressivo que mantem o afeto negativo (Teasdale, 1999a).


Dos 400 mil portugueses que sofrem de depressão por ano, um terço não recebe qualquer tipo de ajuda ou tratamento



Mindfulness e o Treino da Atenção

O MBCT usa o treino da atenção para cultivar a consciência desses mecanismos, possibilitando que as pessoas "saiam" de tais enviesamentos cognitivos e respondam de maneira útil às dificuldades, por exemplo, mudando a atenção para estímulos neutros, reformulando o entendimento da real relevância dos seus pensamentos, assumindo uma postura de aceitação e envolvendo-se no autocuidado. Teasdale, Segal e Williams (1995, p. 33) descrevem o estado Aware e Mindful em "estar plenamente no momento presente, sem julgá-lo ou avaliá-lo… sem tentar evitar qualquer aspecto desagradável da situação presente”.

Na perceção das sensações corporais, sentimentos e pensamentos associados à recaída depressiva os pacientes podem aprender a relacionar-se construtivamente com esses eventos. Práticas e ferramentas do MBCT incluem meditações, yoga e exercícios de respiração, e tarefas diárias de mindfulness e cognitivo comportamentais.

Recomenda-se aos participantes que mantenham estes exercícios após a conclusão do curso; a premissa é que a continuidade da prática constrói e sustenta o momento e a motivação para continuar esta qualidade de relação consciente com a sua experiência, o que significa que eles podem perceber e reverter um episódio depressivo antes que ele se agrave (Segal et al., 2002).

As Evidências Científicas na relação do MBCT, Depressão e Ansiedade

A base das evidências sugere que o MBCT é uma intervenção eficaz e que pode permitir que as pessoas que sofrem de depressão recorrente quebrem o padrão recidivante (Baer, 2003), e é recomendado em diretrizes nacionais Inglesas (NICE; The National Institute for Health and Care Excellence), 2010) como prevenção de recaída para depressão recorrente.



Com quatro revisões sistemáticas recentes focadas principalmente na eficácia da intervenção para depressão recorrente (Chiesa & Serretti, 2011; Fjorback, Arendt, Ørnbøl, Fink e Walach, 2011; Galante, Iribarren & Pearce, 2013; Piet e Hougaard, 2011), os resultados indicam que o MBCT reduz significativamente as taxas de recaída (as taxas de redução relatadas variaram de 34% a 43%) em indivíduos que sofreram três ou mais episódios de depressão. Este efeito de redução de recaída depressiva foi igual ou superior ao da medicação antidepressiva em todas as análises, e foi destacado como superior ao tratamento habitual em duas análises (Chiesa & Serretti, 2011; Fjorback et al., 2011). Um número relativamente pequeno de estudos também apresentou evidências para a utilidade da MBCT em dificuldades de saúde mental que não a depressão recorrente, principalmente ansiedade e depressão. Por exemplo, o MBCT demonstrou aliviar a ansiedade crónica em pacientes que sofrem de transtorno de ansiedade generalizada e transtorno de pânico (Evans et al., 2008; Kim et al., 2009), produzir reduções significativas nos resultados de depressão ativa (Van Aalderen, Donders , Giommi, Spinhoven, Barendregt, & Speckens, 2012) e depressão ativa com ou sem ansiedade co-mórbida (Finucane & Mercer, 2006). O MBCT também demonstrou reduzir a depressão interepisódica e as taxas de ansiedade em indivíduos com transtorno bipolar (Williams et al., 2008b) e ser útil para pacientes que sofrem de insónia (Heidenreich, Tuin, Pflug, Michal & Michalak, 2006).

Resumindo

Dado que o programa de MBCT tem sido descrito como uma intervenção útil em praticamente todos os estudos, inclusive para pessoas com ansiedade, parece ter benefícios numa gama mais ampla de dificuldades de saúde mental e vulnerabilidades para além da depressão recorrente. O racional teórico para a aplicação do MBCT a transtornos de ansiedade tem sido sugerido como forte (Sipe & Eisendrath, 2012). Ou seja, a preocupação que estas pessoas apresentam é relacionada com o futuro e envolve estratégias cognitivas e comportamentais para evitar resultados indesejáveis / temidos. A promoção da consciencialização do momento presente pode fornecer um foco, uma âncora e uma abordagem diferentes para os processos de pensamento e de ansiedade. A ideia a reter é que o uso do MBCT pode ser útil para uma série de problemas de saúde mental e vulnerabilidades, e não apenas limitado à depressão recorrente- É de fácil acesso, sem efeitos secundários e com um investimento financeiro menor do que a terapia psicológica individual.

Concluindo

Embora tenha vindo a ser comprovado, ao longo dos últimos 30 anos, que a prática de Mindfulness é benéfica, parece-me muito importante salientar que Mindfulness não é uma panacéia e uma solução rápida que trata todos os problemas. É mais um estilo de vida que ajuda as pessoas a desenvolverem resiliência, a realizarem o seu potencial e a florescerem. Com a integração de mindfulness poderá aprender a descobrir e a observar as suas reações aos agentes geradores de stress da sua vida e a escolher como responder, assumindo uma postura de aceitação e envolvendo-se no autocuidado. O resultado final poderá levar a uma relação mais positiva consigo mesmo(a) e com os outros. Teasdale, Segal e Williams (1995, p. 33) descrevem o estado Aware e Mindful em "estar plenamente no momento presente, sem julgá-lo ou avaliá-lo… sem tentar evitar qualquer aspecto desagradável da situação presente”. Parece contra-intuitivo...



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